O corpo negro, ao ser escravizado, foi violado, violentado, destituído de sua terra. Mas transformou-se em um território próprio ao esgueirar-se para manter suas tradições.
Não é acaso, portanto, que diferentes manifestações culturais de origem africana, como rituais religiosos, maracatus, jongos, tambores, o samba, a capoeira, usam o corpo como um patrimônio singular.
O corpo, ara, em idioma iorubá, é assim, uma matriz capaz de receber o mundo mítico-ritual. Nesse processo a identidade, a “noção de pessoa” é revista. É quando se dão também as inscrições corporais necessárias à propagação de axé e êxtase, elementos responsáveis por sua manutenção.
Estas imagens revelam o corpo que recebe marcas, que se veste para o labor e para o festejar, que se enfeita, que se faz ao mesmo tempo divino e profano, e que produz presença, ao receber a natureza que o circunda.
Corpos que se movem à polifonia dos tambores e no tempo cíclico, de um eterno retorno às raízes, que é o tempo no qual os mitos se apresentam e as ancestralidades se ligam: religare.